Mulher fica 11 anos sem saber que seu útero havia sido removido, saiba como isso é possível

Em fevereiro de 2020, uma reportagem publicada pela British Broadcast Company (BBC) revelou a história de Bongekile Msibi, uma sul-africana que descobriu que uma equipe médica de seu país de origem havia retirado o seu útero propositadamente, com o intuito de esterilizá-la.

Segundo seu relato, ela teve sua primeira e única filha quando tinha 17 anos e, na ocasião, não tinha nenhum problema de saúde

O parto foi realizado em um hospital da África do Sul e os médicos que a atenderam decidiram retirar seu útero, um procedimento chamado de histerectomia. 

O problema é que a sul-africana só descobriu a intervenção médica, injustificada, depois de 11 anos, quando tentou engravidar novamente. 

Diante da prática criminosa, Msibi acionou as autoridades públicas do país que descobriram que quase 50 mulheres foram esterilizadas sem consentimento. 

Casos na África do Sul  

Segundo a reportagem da BBC, 48 mulheres tiveram o útero retirado por juntas médicas na África do Sul, sem que houvesse uma autorização formal e expressa.  

Muitas vezes, os médicos alegavam estar salvando suas vidas, porque elas estariam infectadas pelo vírus do HIV. 

No entanto, descobriu-se que poucas mulheres tinham, de fato, o HIV e que, na maioria das vezes, a histerectomia foi feita sem qualquer justificativa. 

No caso de Bongekile Msibi, por exemplo, o hospital que fez a cirurgia de remoção informou-lhe que a mãe dela havia autorizado a retirada do útero, o que não aconteceu. 

Casos nos Estados Unidos

Em 2019, a BBC publicou ainda uma reportagem mostrando que a retirada do útero, sem a autorização prévia das mulheres, também aconteceu entre as chamadas “nativas americanas”, as indígenas estadunidenses.

Revelou-se que, na década de 1970, para controle da população indígena, diversos estados, como Arizona, Utah e Novo México, adotaram a política de esterilização feminina.

Segundo a matéria, quase 3,5 mil indígenas tiveram o útero retirado contra a própria vontade. 

Vale apontar que, no caso de algumas populações indígenas, como os Navajo, a abundância de filhos é sinal de riqueza e prosperidade para as famílias. 

O que o útero faz

A principal função do útero é receber o óvulo fertilizado pelo espermatozoide. Isso significa que ele é o lugar onde o embrião encontra as condições adequadas para se desenvolver e se tornar um feto. Logo, esse órgão feminino está diretamente relacionado à gravidez. 

Quando a mulher não é fertilizada, o endométrio, que é a camada que reveste o útero, “descama” causando a menstruação. 

Assim sendo, as mulheres que sofrem uma histerectomia não menstruam mais e nem podem engravidar. 

Quando a retirada do útero é recomendada

A retirada do útero não é mais uma prática recomendada para o controle da natalidade. Como se sabe, há diversas formas contraceptivas mais eficientes e menos invasivas para o corpo feminino. 

No entanto, a histerectomia é recomenda para mulheres que estão, por exemplo, com câncer, para aquelas que sofrem de endometriose ou que têm o chamado prolapso uterino. 

Câncer

A retirada do útero pode ser recomendada se a mulher tiver com câncer no colo do útero, no endométrio, camada do útero, ou no próprio aparelho reprodutor. 

Nesse caso, a retirada pode ser parte do tratamento ou mesmo forma de prevenção do desenvolvimento de células cancerígenas.

Endometriose

Essa doença acomete cerca de seis milhões de brasileiras, sendo, considerada comum entre o sexo feminino. 

De maneira resumida, a endometriose é quando o endométrio, camada mais interna do útero, começa a se desenvolver fora dele, causando muita dor para as mulheres. 

No período menstrual, por exemplo, elas podem ter fortes cólicas que as impossibilitam de realizar suas atividades cotidianas. Nos casos mais graves, a endometriose só é curada com a retirada do útero. 

Prolapso uterino

O prolapso uterino é quando o útero “desce” pela vagina. Isso acontece pelo enfraquecimento dos músculos que mantém os órgãos na pelve. 

O quadro é mais comum entre mulheres que tiveram muitos filhos por parto natural. Mas também é possível que isso aconteça antes da menopausa e durante a gravidez. 

A cirurgia de retirada do útero só é recomendada, nesse caso, quando os exercícios para a recuperação dos músculos se mostram ineficazes. 

Texto: Gear Seo