A história dos cortiços em São Paulo

Cortiço pode ser definido como um local pequeno, com cerca de dois cômodos, onde vivem várias pessoas.

No Brasil, há até mesmo uma obra literária, de Aluísio Azevedo, que conta um pouco da rotina de personagens que viviam em uma habitação assim.

A justificativa para o imóvel receber esse nome está diretamente relacionada à precariedade. São construções simples, muitas vezes localizadas em regiões da cidade que não têm saneamento básico nem ruas pavimentadas.

Outro argumento para o nome “cortiço” está ligado à falta de higiene e à condições de vida também precárias. Mas, afinal, como surgiram os cortiços em São Paulo? 

O fim da escravidão e o início da industrialização

Em São Paulo, após a abolição da escravidão, começaram a surgir os primeiros cortiços. Além dos negros, que agora eram obrigados a deixar o terreno da casa-grande, havia também os imigrantes recém-chegados, que precisavam de um lugar para morar.

Assim, São Paulo vivenciou um grande crescimento populacional, especialmente, por causa da chegada das primeiras indústrias. No entanto, o aumento da população não foi acompanhado pela infraestrutura. 

Concentração em alguns bairros

Os bairros que receberam as indústrias, ou atendimento pelo bonde, o único transporte coletivo na época, eram Bom Retiro, Brás, Penha, Água Branca e Barra Funda. Além deles, a avenida Paulista também já observava os primeiros sinais de crescimento.

Quem vivia longe dessas localidades ficava sem opção de locomoção e não tinha como ir ao trabalho. Assim, a solução mais lógica foram os cortiços — nada mais do que o máximo possível de pessoas vivendo em uma mesma casa.

Postos baixos, salário irrisório

Os imigrantes, que vieram ao Brasil para trabalhar nas fábricas, ocupavam cargos mais baixos, geralmente ligados ao chamado “chão de fábrica”.

Na época, os salários eram irrisórios, o que não lhes permitia pagar o aluguel de imóveis com qualidade superior em partes da cidade que recebiam pavimentação e serviços básicos, como a coleta do lixo.

A jornada de trabalho também era absurda, em média doze horas diárias. Não havia restrição de idade — mulheres e crianças também eram submetidas às mesmas condições precárias de trabalho. 

Algo que ficava evidente é que quem morou e iniciou os cortiços em São Paulo foram os trabalhadores operários, que não tinham possibilidade ou condição de ter um imóvel para apenas uma família. 

Imprensa operária x Grande imprensa

Está enganado aquele que acredita que não houve tentativas de denunciar as péssimas condições de vida em que viviam os operários. O intuito era pressionar não apenas o governo, mas também as indústrias.

Ali, eram relatadas as péssimas condições de vida e as doenças que facilmente contagiavam seus moradores. Do outro lado, a Grande Imprensa noticiava a mesma matéria, mas de forma diferenciada.

Seu propósito era remover forçadamente os cortiços da região central da cidade, expondo os riscos de contaminação para as pessoas com melhores condições financeiras e referindo-se  aos moradores daquele local como promíscuos e sujos. 

Locais onde ficam os cortiços hoje

No século XIX, os cortiços estavam em regiões tidas, hoje, como boas para morar, até mesmo próximo aos bairros nobres, como Higienópolis. São Paulo experimentava o crescimento populacional acelerado. 

Com o tempo, percebeu-se que era necessário trazer saneamento e toda a infraestrutura para essas regiões. Apesar disso, o objetivo não era melhorar a qualidade de vida daquelas famílias, mas sim retirá-las dos bairros.

Desde o ano de 1980, os cortiços são as favelas e comunidades, localizadas nas regiões mais distantes de São Paulo, ou seja, casas construídas pelas próprias famílias em locais onde, antes, não existia nada. 

Apesar de não serem mais chamados de cortiços, espaços minúsculos ainda abrigam muitas famílias enormes — e as condições de vida nem sempre são melhores àquelas vistas no século XIX.

Texto: Gear Seo